(...)“Daqui há alguns anos iremos estar na faculdade, e depois iremos SÓ TRABALHAR... NINGUÉM ESCAPA!”.
Foi com essa frase que dias atrás J.H.G, 10 anos, aluno de escola pública, terminou sua redação em uma dessas provas aplicadas pelo governo, cuja sigla mais parece o nome de alguma doença infecto-contagiosa – que convenientemente denuncia o estado patológico que se encontra a educação – tendo em vista que tais métodos avaliativos só tem como finalidade apresentar números e dados irreais em foros e órgãos internacionais, para que parlamentares e toda sorte de demagogos e burocratas digam de maneira superlativamente falaciosa, que o país está avançando em mais esse desafio, eximindo-os de sua real incompetência.
Mas voltando ao mote principal desse texto, ao analisarmos a frase do jovem aluno, percebemos sem nenhuma dúvida a que condição fora relegado o trabalho, a atividade humana por excelência segundo Karl Marx, que em sua essência é capaz de fazer com que o homem domine e transforme a natureza de maneira sublime e ainda assim, faça inerentemente parte dela, mas que fora corrompido e subvertido pelo niilismo do sistema capitalista, que sem cerimônia alguma profana tudo aquilo que é sagrado em seu benefício.
Ao observarmos uma criança de tão pouca idade, referir-se magistralmente ao trabalho de maneira tão realista e ao mesmo tempo fatalista como a descrita, como algo de que “ninguém escapa”; nota-se que cada vez mais cedo se adquire a consciência de quão funesta fora reduzida essa atividade humana, que dialeticamente fez com que os homens atingissem números de produção e tecnologias jamais imagináveis, mas que, no entanto – através da alienação e da apropriação dessa força por uma dúzia de homens a fim de explorar todos os demais – sua utilização social remete cada vez mais, de maneira involutiva, ao retorno da raiz etimológica do termo (em latim tripolium) que servia para descrever um antigo instrumento usado para torturar homens. Observa-se então uma espécie de “escravidão consentida” ou travestida de liberdade, que se dá a partir do trabalho e em outras esferas da vida social, como descreve Marx no seguinte trecho:
A escravidão da sociedade civil (Burgerlichen Gesellschaft) é aparentemente a maior das liberdades, pois parece deixar o indivíduo perfeitamente independente. O que o indivíduo entende como sua própria liberdade é o movimento (não mais refreado ou restringido por um vínculo comum ou pelo homem) dos elementos alienados que compõe sua vida, como a propriedade, a indústria, o religião, na verdade esse movimento é a perfeição de sua escravidão. (p.157 - A sagrada família).
Neste caso, o caráter ontológico revolucionário e transformador do trabalho é subvertido, e deixa de ser entendido como algo positivo, transpondo a noção popular de "aquilo que enobrece o homem", passando a ser visto até mesmo por uma criança como algo que se deva evitar ao máximo. No entanto, toda essa clareza com que se é possível entender a condição estapafúrdia que chegou a exploração de uns homens sobre os outros através do trabalho, abre um caminho extremamente produtivo e sem precedentes na história da humanidade, para que se crie uma consciência de classe radical pelos novos trabalhadores, sendo superada somente através da práxis a condição de coisificação do trabalho e do trabalhador – que servem apenas passivamente de objetos autômatos dentro do processo de produção capitalista – a fim de se atingir o proposito humanista que transformaria o trabalho em algo realmente edificante, como o proposto por Saint-Simon em seu famoso axioma: “de cada um segundo suas capacidades, a cada um segundo suas necessidades”.
Depois de varias tentativas de se chegar a um denominador comum, no tange a este artigo, verifico que não há uma resposta consistente no tocante ao trabalho como fonte libertadora ou alienante para o ser humano.
ResponderExcluirO que denota-se e que em vista de certos valores, ela a liberdade, surge como algo inovador no sentido de trazer ao homem o poder de sonhar e este sonho não se esvai, não limita-se ou limita apenas na ideia do desejo enrustido das conquistas.
No entanto ao pensar sobre este artigo, chego a seguinte conclusao , a liberdade no trabalho e algo sazonal, ela e inerente aos desejos e vontades. Ela aproxima o homem de uma transformacao superficial da realidade, ela destroi futuros, constroi caminhos, camufla sonhos, apaga desejos, mas regenera-se, isto e, a alienacao e criada pelo proprio homem, como algo condicionado e sistematico.
E acredito que muitas conquistas surgiram por esta falsa percepcao da realidade. Ela e nociva? Sim, tem seu preco e ao mesmo tempo aproxima precoce e precariamente o ser humano dos seus sonhos e de suas vaidades.
Realmente disso, ninguem escapa. E isso!
Bom o seu texto, Companheiro!
ResponderExcluirRealmente, o TRABALHO na perspectiva capitalista; aliena e escravisa o homem.
Este tema é de grande interesse nosso. Pois, é sobre o TRABALHO INDÍGENA NO AMAZONAS, que realizamos a nossa pesquisa de Doutorado!
Um grande abraço.