domingo, 19 de dezembro de 2010

FOMOS ESTUPRADOS!

         
         Nesta semana (na verdade no fim da semana passada), o povo brasileiro se viu mais uma vez logrado. Até aí, nenhuma novidade. Com o silêncio retumbante de um povo cada vez mais covarde e permissivo, num gesto imprevisível, um coup de main¹,  os parlamentares aprovaram sem muito alarde, aumentos generosos de até 75% em seus já onerosos salários, aumentando ainda mais a distância material, ética e simbólica entre nossos mandatários (aqueles que tudo podem) e a manada omissa que tem como direito obedecer e concordar cegamente com qualquer medida arbitrária vertical. Um estupro! Um verdadeiro estupro moral ocorreu novamente contra o povo brasileiro. Mas seria de fato um estupro? Um estupro ocorre como um ato de violação grave contra a integridade de outra pessoa. No caso em questão, o povo “moralmente estuprado” se sentiu de fato lesado? Neste caso, o problema encontra-se na passividade. Quando não se proíbe uma prática ou a condena, consequentemente a legitima e a estimula. Dessa forma, damos o aval para que ocorra a moralização daquilo que agride e vai contra uma postura ética que anseia a nossa esgarçada sociedade. 
        Sobre as reações, com excessão de um único partido político minoritário que se opôs à medida, oque  acompanhei foram  apenas manifestações isoladas e esparsas de indignação (como esta minha) à revelia da grande massa e da grande mídia. Não observei nenhuma movimentação expressiva que contestasse efetivamente a medida parlamentar, sequer pela Intelligentsia ou pelos representantes da auto-proclamada “esquerda”, que em geral vão muito bem, obrigada. Aliás, estamos perto das comemorações de fim de ano, e bem sabemos que a “esquerda” brasileira (que adora fazer festa), não iria anular sua agenda em detrimento de interesses “menores”. O que notamos então, tal como um câncer que extirpado de um órgão já age de maneira mais avançada sobre outro, é que quando começa-se a falar quase que diariamente em combate a corrupção, eis que aqueles que a praticam - daqui a bem pouco tempo - sequer precisarão se arriscar mais nessa prática, poupando-se de serem vítimas de eventuais denúncias ou penalidades que poderiam colocar suas "imaculadas" carreiras em xeque, pois já será possível aprovar mecanismos para substituir a corrupção ortodoxa por uma “legal”. Impensavelmente na última semana  vimos surgir então o princípio da “institucionalização da corrupção”. Quem sabe daqui há algum tempo, com as coisas caminhando dessa forma, alguma medida provisória ad aeternum a possa legitimar de vez. Eu  e o povo brasileiro mais uma vez fomos estuprados!           


1-Expressão usada por Karl Marx, em “18 Brumário de Luís Bonaparte" para descrever o ataque inesperado de Luís Bonaparte, que se efetivou em golpe de estado na França em 1948.

2 comentários:

  1. A Institucionalização da Corrupção, sancionada em lei tirará o gosto pela coisa. Mas penso que o senso comum já legitimou-a, o que nos pesa a falta de indignação suficientemente forte para nos impulsionar a uma ação coletiva.
    As indignações solitárias, como as "férias da esquerda",podem ser expressões de inveja por não terem as mesmas oportunidades. As indignações dos que nunca saem de férias, solitárias ou não, merecem o respeito e a exaltação dos iguais.
    Aqui está a minha.

    ResponderExcluir
  2. Quando faço minha crítica, obviamente falo da "esquerda festiva", da "esquerda burguesa" e de todos dejetos que usam um discurso de esquerda apenas como modismo (já bem fora de moda), como status intelectual. A questão não é a "esquerda" sair de férias, é sim jamais voltar dela. Você disse: "As indignações solitárias, como as "férias da esquerda",podem ser expressões de inveja por não terem as mesmas oportunidades". A minha intenção dentro do humanismo marxista é fomentar a crítica e a práxis (acima de tudo) para que TODOS TENHAM ESSAS MESMAS OPURTUNIDADES. Obrigado pelo teu comentário.

    ResponderExcluir