quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

LEGALIZAÇÃO?

Novamente surge nos noticiários manifestações em prol da legalização das drogas. De fato qualquer coisa que tenha uma abrangência social deve ser francamente discutida e debatida, mas nesse caso, acredito que a discussão possa cair como pode se observar, numa especulação de forças nada ocultas (ou seria à toa que até excelentíssimo ex-presidente FHC estaria defendendo essa posição?) e do senso comum pequeno-burguês. Nos meios intelectuais e universitários não é raro encontrar grandes entusiastas pela legalização das drogas e mais especificamente da maconha. A grande falácia nesse ambiente, é colocar essa discussão como sendo uma postura exclusivamente “progressista” e/ ou “moderna”. Essa mesma pequena-burguesia que se situa como “esquerda”, mas que, no entanto, desconhece grande parte do legado teórico marxista, deveria primeiramente atentar para o fato de que ao invés de se incentivar a legalização de qualquer espécie de droga, o coerente seria trabalhar efetivamente para a conscientização dos males causados por todas elas (aqui enquadram-se também tabaco, álcool, etc.), que surgem como artifícios do consumismo, moedas de troca e mercadorias fetichistas do sistema capitalista. Neste caso, as drogas podem servir também como um fator alienante que afastaria o indivíduo de sua essência subjetiva, sendo historicamente mais uma ferramenta formidável apropriada pelo sistema capitalista para inebriar e dominar as massas e as consciências (basta lembrarmos de episódios como a Guerra do Ópio, por exemplo). Esse seria apenas um dos aspectos negativos, devido à complexidade da discussão. Ao alimentar o discurso de que a legalização anularia o tráfico e consequentemente haveria uma diminuição do crime  organizado, também nota-se se aí algumas incoerências e a falta de uma análise dialética mais profunda da realidade, ou por acaso o fato de um CD ou um maço de cigarros serem bens de consumos legais, impedem que esses mesmos artigos sejam sistematicamente pirateados e contrabandeados em grande escala? Uma suposta legalização faria que o governo recolhesse impostos e exercesse um controle rigoroso sobre esse tipo de produto. Até aí nada mal, desde que essa receita gerada fosse usada efetivamente em programas de desenvolvimento social. Nada mal se não estivéssemos no Brasil e não soubéssemos que mais arrecadação também significa mais fontes para a corrupção. Ainda assim, por se fazer necessário um produto com um controle de qualidade rigoroso, logo, este mesmo produto também teria que passar por um processo de industrialização,  e neste caso, quem seria a classe que manteria o monopólio sobre o processo de produção, desde o plantio até o produto final? Obviamente a grande burguesia e o empresariado, que exerceria extrema especulação de mercado em cima do novo artigo de consumo. Nesse sentido, o tráfico como o conhecemos se identifica muito mais com um movimento de resistência lumpemproletário, na medida em que cria um ambiente de tensão social que pode e deve ser assimilado pelas massas como extremamente positivo numa perspectiva de mobilização ou revolução social, capaz de levar a opinião pública a questionar radicalmente as origens mais profundas da violência, que decorrem da maneira arbitrária que a sociedade se organiza para produzir e distribuir sua produção. 
A grande ignorância da discussão pequeno-burguesa nesse sentido é colocar o tráfico como uma causa, quando na verdade é o efeito crônico desse mesmo sistema assimétrico. É criado então um paradigma de criminalização da pobreza. Esse discurso todo de legalização soaria bem menos absurdo se não estivéssemos num país com gravíssimos problemas estruturais e superestruturais que todos já estão cansados de saber, mas que, no entanto precisam de maior urgência e mobilização social em suas resoluções imediatas, como a miséria extrema de milhões e a falência dos sistemas educacionais e de saúde. Ainda assim, para a resolução efetiva destas questões, não se vê um ativismo tão grande por parte da intectualidade e dos representantes da pequena-burguesia, obviamente por esses problemas não os atingirem diretamente, logo, o combatem com doses alopáticas de demagogia.  Ao legalizar outras drogas, ou a maconha (que inegavelmente junto com o tabaco e o álcool podem levar ao consumo de outras substâncias que criam grave dependência) corre-se então o risco de ser gerado também mais um grave problema de saúde pública, que obviamente poderia ser contornado facilmente pela burguesia, pois teriam condições materiais de asilar seus filhos nas melhores clínicas para tratamento e recuperação. No entanto, nas camadas mais populares e vulneráveis da população – alheias a todo tipo de serviços desde os mais básicos – as  conseqüências poderiam ser ainda mais tétricas. Para mais essa forma de discussão de cunho consumista e burguesa, maquiada em um slogan “progressista”, que, no entanto, pode aumentar ainda mais perigosamente o espectro de atuação e fortalecimento do capitalismo, deixo minha opinião: legalização não!


3 comentários:

  1. Penso que progressista é quem questiona a ordem e se afirma fora dela.
    Politicamente me parece obscuro pensar em tal assunto, mas não tenho dúvidas de que a bandeira da legalização está levantada também por punhos conservadores que não admitem ver alguns "pobres coitados" da história, com o mesmo império que eles, ainda sem estar sob nenhum de seus métodos de controle!
    Capitalistas são todos iguais, o que nos cabe é a preocupação com o ser humano, fazê-lo voltar a ser ou em permanecer humano.
    Penso que esta questão tem pontos demais para serem discutidos "ao vento". Mas gostaria de me juntar à você nas considerações que faz aqui neste texto.
    ENTRE OUTRAS COISAS QUE PENSO SOBRE O ASSUNTO, TAMBÉM SOU CONTRA A LEGALIZAÇÃO!

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  2. Olá Lú, agradeço e prezo muito seus comentários e críticas, sempre muito bem fundamentados e construtivos. Concordo com você, a preocupação com o ser humano deve ser imperativa. Muito obrigado.

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